quinta-feira, junho 01, 2006

De um infeliz ano velho

Rall
Termina mais um ano. Como diz os analistas, foi o ano do governo arrumar a casa. E como diz o governo, com as reformas e as medidas econômicas, criamos as bases para o crescimento espetacular. De fato terminamos o ano com o desmanche do sistema previdenciário, com o desmonte das Universidades Públicas, ou o que ainda restava de público no ensino e com os Hospitais Públicos decidindo quem tem o direito de viver ou morrer. Mas todas essas medidas, que resultaram no encolhimento do estado, meus caros amigos, nada tem a ver com o que vocês costumam chamar de neoliberalismo. São medidas necessárias para acabar com o déficit público, pagar nossas dívidas interna e externa e liberar recursos para o mercado. Ah! É nele que está a nossa grande esperança! Será ele o grande responsável pelo espetáculo de crescimento, tão ansiosamente esperado...Vejam, estamos no fim do ano e a indústria já dá sinais de seu vigor, com o aumento das exportações criou 1.500 vagas, sim senhor, mil e quinhentas vagas para mais de dois milhões de desempregados nesta abençoada e Grande São Paulo. É a primeira cena do espetáculo, outras virão.
Reconhecemos que nossas exportações já bateram no topo nos mercados tradicionais. Não se incomode com isso, tem os emergentes, a China, a Índia, a grande Líbia do Coronel Kaddafi e a acolhedora Cuba do Comandante-em-Chefe Fidel Castro. Talvez para esses dois possamos aumentar as nossas exportações de sisal, ótimo para confecção de corda para enforcados. Com o aumento dos dissidentes abre-se um grande mercado para esse nobre produto em vários países amigos e já vai com cheiro de carne humana dos pedaços decepados dos membros superiores dos trabalhadores. Sai mais barato do que o uso de balas, com certeza. Na ponta de uma corda bem trançada pode passar vários pescoços. Só a China arranjou uma forma inteligente de resolver os custo das balas: manda a fatura para os familiares do morto. Mesmo assim, a forte e boa corda de sisal poderia ser mais barato se dividido os custos entre várias famílias. Quem sabe se os EEUU não vão querer algumas toneladas para o Iraque e Afeganistão? Tem muita gente por lá dando trabalho.
Gritam pela grande imprensa os analistas de plantão que o mercado interno puxa o nosso crescimento o ano que vem. Os juros estão caindo, a indústria pronta para investir, crédito barato, as reformas concluídas e o consumidor doido pra consumir. “Mas, espera! Os rendimentos dos trabalhadores não vêm caindo dramaticamente?” É, é o que diz o IBGE: a participação da renda dos trabalhadores no PIB vem caindo ao longo dos anos, despencou mais de 15% de maio de 2002 ao mesmo mês em 2003 e continua caindo, ainda por cima tem o persistente e teimoso desemprego... “A indústria em crescimento não absorve essa mão de obra?” Não tanto quanto querem, na verdade muito pouco apesar do alarido da imprensa. No pega pra capar da concorrência num mercado globalizado, nossos preços vão ser comparados com os de fora. Se nossa indústria for competitiva vai garantir os seus produtos no mercado, para isso deve aumentar a produtividade, com mais máquinas e menos trabalhadores, trabalhando muito e recebendo pouco. Já se fala até em crescimento sem emprego, pra quem vender não sabemos. “Mas e os milhões de empregos prometidos pelo Presidente no espetáculo de crescimento?” Bom, para os chamados excluídos se não tem emprego, tem a fome zero. “E se não tiver comida para todos?” Ah, meu caro! Tem a polícia, essa eficiente instituição! Vem se modernizado, ganhando força, veja as prisões como estão cheias! Já mata mais do que a polícia da ditadura, com uma vantagem: ninguém reclama, nem anistia, nem direitos humanos, nem igrejas, nada, tudo calado. Nessa história, de vez em quando vai um cidadão, mas é contabilizado como bandido e todos ficam satisfeitos.
MESMO ASSIM DESEJO A TODOS UM FELIZ ANO NOVO!...

21.12.2003

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