domingo, novembro 04, 2007

O leite mijo de vaca e a lógica do capital

Rall


Já não basta aumentar o volume de leite com água contaminada como se sabia. Para não azedar rápido, a fórmula do químico consultor de grupos multinacionais inclusive, exige soda cáustica e água oxigenada. Acrescenta-se ainda a branca natureza do precioso líquido soro cultura-de-bactéria, refugo da produção de queijos, e mijo de vaca para realçar o sabor. Eis o leite oferecido pelo mercado em fina sintonia com refinados paladares.

As ridículas declarações da ANVISA (agência reguladora da vigilância sanitária), de que soda cáustica e água oxigenada quando ingeridas no leite não prejudica a saúde, dirigidas para amainar o escândalo e acalmar os consumidores, satisfazem a devida mistura dos interesses econômicos. Mistura que é só a ponta do iceberg da lógica absurda da sociedade capitalista, que pouco importa o que se produz e como se produz, desde que produto final seja uma mercadoria.

Que diferença faz se um país vende armas que alimenta a criminalidade e as guerras fratricidas ou vende produtos orgânicos com selos verdes acenando para o consumidor? Ambos são mercadorias que nas transações permutam-se e no final garantem um acréscimo, um lucro, ou seja, a “valorização do valor” como afirmava Marx. Por isso as empresas de um mesmo país que vendem produtos orgânicos porque tem um mercado à espera, vendem também armas para os extermínios e disseminação da violência com a certeza de que estão fazendo um grande negócio.

A fórmula simples de Marx, D-M-D’ (dinheiro-mercadoria-mais dinheiro), expressa a essência da sociedade capitalista: fazer dinheiro, não importa se os meios para atingir esse fim possam levar a morte de pessoas e a destruição do planeta. É claro que a pressão social faz com que o impulso de fazer dinheiro seja mais liberado ou mais contido nas sociedades produtoras de mercadorias. Mas está aí, presente nas relações sociais. O “espírito animal” (coitado dos bichos), como assim define um certo ministro a louca corrida pelo dinheiro imanente ao capitalismo, invade e domina a todos.

O impulso destrutivo, que se aloja nos mais recônditos do inconsciente na socialização dos sujeitos e move o ser rentável em sua missão terrena, é fruto de relações sociais reais fetichizadas que dominam os homens e só permitem que estes se movam automaticamente dentro das fronteiras pré-estabelecidas pela lógica do capital. Manifesta toda sua potência nos momentos de crise, quando se acentua a concorrência e o sistema torna-se mais irracional, produzindo alimentos que matam, brinquedos que envenenam crianças, remédios que não curam e todo tipo de violência de grupos e institucional.

Os gritos de guerra do nazismo, “pátria ou morte”, ou do capitalismo de Estado que pode ser tão brutal quanto o laissez-faire, “socialismo ou morte”, são ecos de ruídos produzidos por aqueles que com gosto de sangue na boca e sede de poder, movimentam-se nos limites que lhes impõem o capital. É preciso pensar para além da sociedade produtora de mercadorias para sair da crise.


04.11.2007

3 comentários:

Anônimo disse...

Saudações Rall!

Cara, gostei da análise via leite adulterado das relações sociais engendradas pelo capitalismo financeiro.
Só faltou fazer uma menção aos transgênicos, essas aberrações genéticamente modificadas.
Isso não é só o retrato da vida sob o gatilho do capital; é a própria vida humana em permanente risco de extermínio...desde q dê lucro para uma micro-eilte q embarcará para marte, depois do holocausto financeiro devastar a face da terra(...)

Um abraço!

jucca

Anônimo disse...

Parabéns pela sua análise lúcida. Parece que estamos sintonizados. Escrevi um texto, chamado "Economia na base da porcaria" (está no site do meu coletivo, segue abaixo o endereço), onde vou mais ou menos pelo mesmo caminho. Gostaria de saber se posso publicar teu texto em meu site, se você autoriza. Meu nomé é Paulo Marques, meu email é vergiliomarques@hotmail.com
O site do meu coletivo: http://marxismoradical.blogspot.com

Anônimo disse...

qual é o problema dos transgénicos e quem disse que se vendem produtos envenenados? parem de espalhar patranhas! nunca tantos se alimentaram tão bem e vivem tanto tempo. parem com o obscurantismo.
não suporto mais este ambiente apocalíptico e mentiroso destes meios radicais.
outra coisa, o texto serve apenas para pregar aos convertidos.
ass: Um que está de saída de capelas de vendedores do fim do mundo.