sábado, junho 27, 2009

O pior já passou? Um "sim" ecoa afoito no mundo dos negócios

Rall

O endividamento em que vem se enredando os Estados Unidos e os outros países do centro e da periferia, na ilusão de assim driblarem a crise, é a bolha do momento. O que são as bolhas se não a geração de capital sem substância, seja pelo mercado, pelo Estado ou simultaneamente pelos dois pólos da sociedade da mercadoria? Isso mostra a impossibilidade do capitalismo em crise terminal desde os anos 80, sustentar-se sem produzir montanha de capital fictício. A expansão monetária global que ora assistimos para segurar a economia, à custa do endividamento dos estados e sem precedente na história do capitalismo, jamais será paga com parcelas de mais valia futura transformada em impostos.

O acirramento da concorrência entre os capitais, forçando num primeiro momento a queda dos preços e o deslocamento de mercadorias para mercados antes pouco cobiçados, pode levar ao protecionismo ou a desindustrialização(1) de regiões inteiras. Os primeiros sinais desse fenômeno são observados na América Latina e em outros Continentes com a chegada principalmente dos produtos chineses. Num segundo momento, a competição violenta entre as empresas forçará o aumento da produtividade, introduzindo novas tecnologias dispensadoras de trabalho na produção de bens, agravando o processo de “valorização do valor”, ou seja, de formação de capital, o que torna o aperto fiscal para cobrir o déficit público mais difícil no futuro.

Quando o peso da dívida aumentar o risco de colapso dos estados sem condições fiscais de resolverem o problema do déficit orçamentário, as emissões fiduciárias continuam e a inflação surgirá galopante para infringir a sociedade, principalmente às populações desprotegidas, a fúria do "terceiro cavaleiro do apocalipse". Por enquanto este se mantém a espreita, esperando o momento oportuno para cavalgar cuspindo fogo em todas as direções.

Essa mudança de perspectiva, de deflação de ativos para inflação, é a forma perversa do deslocamento dos custos da crise para as costas da população menos favorecida, já atormentada pelo desemprego. As carências deverão se agravar com os estados descolando-se cada vez mais de qualquer compromisso social, principalmente na área da saúde, educação e aposentadoria, para cobrir os rombos no mercado. Mas, antes dessa chegada, a produção poderá cair menos ou até mesmo se estabilizar e ganhar um certo fôlego com a formação da bolha estatal que ajudará alimentar filhotes de bolhas no mercado, iludindo os tolos como sendo o início de uma retumbante retomada. As bolsas mostram essa tendência.

O discurso agora tão em voga de que o pior já passou, expressa as dificuldades e os limites que tem os teóricos do mercado de variadas matizes, de avançarem na análise da crise do capitalismo e as expectativas quase religiosas de soluções milagrosas imediatas. E não poderia ser diferente se para eles a história é a história da eterna sociedade produtora de mercadorias, não existindo o antes nem o depois que não sejam variações dessa forma de produção. Desse modo de pensar e analisar a realidade não estão salvos os auto-intitulados economistas de esquerda.

27.06.2009

(1) A tendência da indústria brasileira

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