segunda-feira, outubro 10, 2011

Ocupar Wall Street e outros espaços da máquina capitalista

Rall

Quando a Wall Street começou a ser ocupada por manifestantes, com palavras de ordem contra o desemprego e o salvamento dos bancos colapsados, aos gracejos dos financistas e de posições como as do direitista Mitt  Romney que se adiantou em condenar o que taxou de luta de classes, contrapuseram-se algumas falas. Obama chegou a ensaiar um “eu compreendo”. Mas, o que chamou atenção foi o apoio de intelectuais do establishmet como Paul Krugman, que mesmo fazendo restrições aos militantes, defendeu em artigo a ajuda de políticos e intelectuais no detalhamento de uma proposta que servisse de base para o movimento e a posição do historiador Rich Yeselson que sugeriu como plataforma central do movimento aliviar as dívidas dos trabalhadores. São sinais de posições permeáveis da sociedade norte-americana a movimentos como esse.

É em Wall Street que o capitalismo em crise manifesta com força a tendência de gerar grande volume de capital fictício. Mas, a lógica prevalente de se criar dinheiro do nada, não importa se usando o esquema Ponzi (1) ou outras formas de se multiplicar ao infinito, não se restringe aos centros financeiros. Quando os governos, para “salvarem” a economia como um todo e não só os bancos, imprimem bilhões em moeda nacional sem “lastro”, as denominadas “expansões quantitativas”, estão seguindo a mesma lógica. O crédito alongado ao extremo para que não possa ser pago enquanto existir o capitalismo, é outra importante face dessa imensa máquina de produção de capital fictício que se transformou o capitalismo dos tempos atuais. As commodities, a especulação no setor imobiliário e com outros ativos ditos reais, os derivativos, as operações financeiras como “short selling” , “carry trade” e outras invenções em andamento, são produtos da loucura humana por dinheiro que se autonomizou.

Essa autonomização que agora atinge o máximo de seu movimento aprisionando a economia real em bolhas financeiras, não permitirá que a alardeada regulação freie seu impulso destrutivo. O que assistimos é a lógica destruidora e excludente do capital levada ao extremo, sem nenhuma possibilidade de controle consciente dentro de fronteiras que não nos permite pensar de forma diferente do que nos impõe a socialização pelo valor. Quanto mais fica claro que toda produção do capital fictício, não importa se pelo mercado ou Estado, é a forma encontrada para “compensar” a crise na economia real da “valorização do valor” (Marx), e quanto mais essa crise se aprofunda, mais os desesperados sujeitos do dinheiro alimentam a máquina de formação do capital sem substância.

Os crescentes espasmos da crise, em número e intensidade, tendem ser mais destrutivos e sem compensações posteriores que possibilitem a retomada da economia num patamar superior com geração de empregos e melhoria da rentabilidade do capital global como muitos esperam. As empresas em dificuldades, para compensarem as perdas e enfrentarem o acirramento mortal da concorrência, intensificam o capital fixo com investimentos em automação e dispensa da força de trabalho, nutrindo todo processo de desvalorização do valor que é a causa básica da geração de capital fictício. Esse círculo vicioso, crise da economia real, geração de capital fictício simulando a acumulação, agravamento da crise pela queima do capital sem substância e nova rodada de geração de capital fictício, sem a ultrapassagem dos limites impostos pelo capitalismo para se manter respirando, tornará a crise mais perigosa e destrutiva, com risco de aventuras armadas de grandes proporções como último apelo para uma retomada agora em terras calcinadas.

Para que o movimento se firme, a militância do Ocupar Wall Street além de apresentar uma plataforma viável, com poucas e objetivas palavras de ordem (e aí a redução das dívidas não só dos trabalhadores, mas também dos sem rendas, sem empregos e sem bens, os últimos sugados pela bolha imobiliária, pode ter um apelo muito forte a mobilização), deverá estender as ações a outros espaços, financeiros ou não, que representem a ordem vigente. Mesmo que num primeiro momento faltem militantes para tanto, esse movimento pode ganhar magnitude e surpreender. 


10.10.2011