sexta-feira, junho 02, 2006

Nosferatu dos novos tempos

Rall


É meus amigos, parece que estão acreditando no milagre da multiplicação dos pães! Num mundo em crise o capital financeiro faz milagres. Agora é a nossa vez, os periféricos, as bolsas em alta fazem a alegria dos investidores. Vejam só, o Brasil que há anos não consegue acumular nem pra pagar a cachaça da turma, a economia cresceu 0,10% em 2003 segundo os analistas, puxa a euforia das bolsas do mundo com alta de 97,3%! Donde vem tanta riqueza? Do nada. Pura ficção de um capital enlouquecido que não consegue mais acumular: dinheiro gerando dinheiro sem substância.

O ano de 2003 foi à vez dos grandes investidores estrangeiros marcarem presença nas bolsas dos paises em “desenvolvimento”. Juros baixos nos países de origem, papéis americanos e de outras grandes economias com baixa rentabilidade. Vamos para o terceiro mundo! O sinal foi à queda do risco-país. No Brasil, de 2.436 pontos em 27 de setembro de 2002 foi para 428 no dia 05 de janeiro de 2003. Que maravilha! Tornamo-nos confiáveis como diz a grande imprensa, porém é bom acrescentar: graças às manobras especulativas.

Pelo riso do poder esse é o nosso ano. Produção? Emprego? Não tem importância, ponha as suas economias na sacola e joguem na bolsa. Vai crescer e frutificar. Só tem um risco: o bicho pode comer por dentro o miolo, deixando a casca para enganar e um caroço sem valor duro de roer. Depois sai voando por aí atrás de novas seivas. É insaciável.

O Nosferatu dos novos tempos já não se alimenta do trabalho vivo, que vem escasseando desde as últimas décadas do século passado. No seu delírio famélico prefere o sangue virgem da sua imaginação insânia, ou seja, o nada. Um dia, seu corpo putrefato, sob o efeito da estaca do real, expele gases maus cheirosos e murcha. Seus adoradores se desesperam frente ao que restou de um ser tão perfeito que parecia garantir a felicidade eterna. Imperceptível, sua alma doentia desloca-se numa velocidade estonteante. Mirando novos horizontes em busca de recompor seu corpo destruído, deixa para trás as ruínas de sua passagem.


07.01.2004

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