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As ruas continuam sendo ocupadas agora por jovens e adultos.
Num sentimento difuso de insatisfação nunca visto nesse País, os jovens
pressionam os pais para que sigam o mesmo caminho. Muitos terminam aderindo por
convicção ou medo de deixa-los sozinhos na multidão. E o que ouvimos das
pessoas próximas, mesmo aquelas mais pacatas e, como diríamos, poucas chegadas a
qualquer outra discussão que não seja relacionada a seu mundo familiar, é que é
preciso fazer alguma coisa para mudar o rumo da história. O que ouvimos empiricamente
é confirmado nas pesquisas de opinião que mostram um poio de até 72% as
manifestações. Apesar dos vários motivos
que tem levado o apoio e a adesão tão maciça as ruas, há um eixo comum que é o
repudio as formas políticas e a sensação da incapacidade do institucionalizado
resolver os problemas deixados no rastro da crise global.
O movimento pelo passe livre e a repressão policial nas
primeiras manifestações, foi só a fagulha que incendiou este País dos grandes
centros urbanos a mais pacífica vila do interior. Há muito que esse combustível
foi consumido. A maioria esmagadora que hoje sai às ruas nem se quer sabe da
existência desses ou daqueles grupos. Sai às ruas por que querem manifestar sua
indignação, por não mais aceitarem a mediação dos políticos, dos grupos, dos
que se acham donos dos movimentos e da opinião alheia e tentam canalizar a
explosão de energia para acumular poder. Por outro lado, vê-se que a imprensa e
o Governo forçam o estabelecimento de “porta-vozes” como forma de domar o
movimento. O que diferencia esse movimento dos outros e garante uma energia
crescente que a todos contamina é a espontaneidade e a horizontalidade.
Por outro lado, para que ele resista ao embate com as forças
repressivas, que sentem ameaçada suas supostas lideranças, inclusive os grupos
que gostam de se apropriar e aparelhar os movimentos segundo seus interesses, é
necessário aprofundar a organização horizontal, com discussões nas escolas, nos
bairros, nas empresas, buscando aonde for possível às formas mais direta de
participação, e que se aprofunde o entendimento do que têm levado as pessoas às
ruas. Encontros já vêm acontecendo em vários lugares, mas parece ainda restrito
aos momentos de elaboração de cartazes e outros materiais de difusão das
manifestações. O meio disponibilizado pela tecnologia de informação, permitindo
a comunicação entre as pessoas em tempo real, tem funcionado como um tremendo
facilitador na implementação das organizações horizontalizadas.
O movimento vem apresentando uma grande resistência ao mandonismo dos
que se acham no direito de conduzi-lo, ou seja, a todo tipo de autoritarismo
tão arraigado à sociedade brasileira e as práticas políticas. As reações
negativas aos partidos políticos começam a ser taxada por certos grupos com
interesse especifico como “reacionária,” numa tentativa de reprimir e por na
defensiva a grande massa portadora desse sentimento. Toda e qualquer
manifestação de violência deve ser contida e condenada. No entanto, o que se
observa é uma repulsa a esse tipo de organização, própria da sociedade burguesa,
que já não consegue dar resposta às demandas sociais e vem perdendo rapidamente
sua legitimidade enquanto representante dos interesses da sociedade e dos
anseios por mudanças. É isso que os partidos de esquerda e seus grupos
satélites querem negar. Sem nenhum
auto-questionamento das suas práticas políticas, resmungam contra a direção
tomada pelo movimento e se isolam sem nada entender. Mas, o impacto do real é muito mais transformador
nas cabeças das pessoas do que o engodo contido nos discursos vazios.
Porém, não podemos deixa de reconhecer que os impulsos
espontâneos das massas não se sustentam por muito tempo e o movimento ou parte
deste, pode ser acoplado a elementos regressivos, sob pressão do “sujeito
automático” (Marx), se se mantém à superfície do cotidiano das pessoas. O
aprofundamento das discussões, a apropriação dos conhecimentos necessários ao
entendimento da realidade em crise, o rompimento das dicotomias entre os que
pensam e os que fazem na prática política e a organização interna ascendente é
importante para que o movimento prossiga e alcance novos patamares. É possível
ensaiar a construção coletiva do conhecimento e da ação, da práxis que transcenda as
reivindicações mais imediatas e questione a socialização capitalista. Essas questões não estão postas no momento atual do movimento, cuja consciência obnubilada da crise do valor manifesta-se em um indefinido mal-estar social.
* Tomei
emprestado o título de uma citação em
um dos romances de Don DeLillo, se a memória não me falha, ou de outro
autor.
23.06.2013
23.06.2013
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