terça-feira, dezembro 31, 2013

Para além de 2014

Rall

O ano finda-se frustrando aqueles que acreditavam que a revolução estava às portas. As manifestações perderam seu ímpeto apesar do crescente mal estar, ajudado pelos defensores da “estética” da violência a troco de nada. Porém, contrasta com essa aparente calmaria a luta entre as nações e entre os capitais particulares pelo espólio do mercado após os tremores da crise 2007/2008. Os rearranjos são evidentes, e o País que tem a hegemonia da força, da moeda e tecnologia avançada, os EUA, dá sinais de que pode respirar sem os socorros do Fed.

A desvalorização do dólar frente às demais moedas, a intensificação do desenvolvimento tecnológico e a queda no custo dos equipamentos de automação que tem levado a instalação das chamadas “fábricas fantasmas” que podem produzir 24 horas ininterruptas, vem permitindo um certo repatriamento da indústria e aumentando as exportações.

Se considerarmos que dinheiro barato para investir e crédito a juros negativos para o consumo sobra neste País, há de se concluir que muito desse dinheiro escapa para os espaços de especulação. O desempenho positivo das bolsas nos Estados Unidos e, até mesmo, uma retomada dos negócios imobiliários, é um sinal disso. Porém, a crise continua seu curso, ela não se esgota com a retomada da economia americana.

A crise do capitalismo contemporâneo, da qual nada escapa, é crônica e assimétrica, com momentos de agudização em intervalos cada vez mais curtos e mais destrutivos. É possível, durante um longo período que não podemos predizer, que as terras de ninguém “desertificadas” pela fuga de capitais por não mais encontrar aí os lucros esperados, aumentem rapidamente e, na mesma proporção, os oásis do capital e do consumo, restrinja-se a alguns países.

E quem haverá de lembrar-se do Haiti(1)? Dos países africanos cujos estados degeneram em bandos armados para garantirem seu butim? E o Médio Oriente e Norte da África, o que resta de suas revoluções e das esperanças despertadas(2)? E assim vai... na medida em que o capitalismo encolhe e é devorado pelas suas próprias contradições, o que se manifesta é o aprofundamento da barbárie, a matança, o genocídio próprio da lógica intrínseca dessa forma social.

Nesse momento de crise crônica, insolúvel nos limites dessa forma de produção, o que se observa são os países mais bem posicionados transferindo para os mais frágeis suas dificuldades. Os países centrais da Europa sacrificando até o limite da sobrevivência os países periféricos e seus próprios cidadãos. A “retomada” da Americana do Norte corre em paralelo com o agravamento da crise na América Latina e, em particular, no Brasil(3). A exceção são os países que funcionam como extensão da economia americana.

A China enfrenta dificuldades que deve se agravar em médio prazo com o colapso do circuito de comércio deficitário que mantinha com os EUA e as questões internas relacionas com capacidade instalada, bolha imobiliária e um sistema financeiro vergado pelos créditos podres. As indústrias americanas aí instaladas para exportação fazem um movimento inverso. As condições agora oferecidas, considerando ainda distância, logística, e a mudança do patamar salarial, já não mais atraem os exportadores. Estes preferem no momento voltar ao solo pátrio onde lhes são ofertadas vantagens de toda ordem além da tecnologia disponível.

A crise, que se move em ondas gigantes, sem temer obstáculos que lhe queiram imprimir os gestores do capital e a falácia política, atinge agora perigosamente os BRICS e os países correlatos do chamado mundo subdesenvolvido. Portanto, as ondas do tsunami que teve início com os potentes tremores nos centros financeiros mundiais, após as destruições deixadas em solo americano, percorrem a Europa e satélites, e agora invadem sem dó os países periféricos do capitalismo global. Para os desavisados que acham que tudo está na iminência de ser resolvido, é bom lembrar que são sete anos de destruição e violência sem trégua.


31.01.2013

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