domingo, abril 08, 2012

Uma Páscoa de ovos gorados

Rall

As notícias de mar revolto na velha Europa azedaram as bolsas as vésperas da Páscoa.  Agora vem da Península Ibéria, com o mercado exigindo juros mais altos para financiar a dívida espanhola. Já não é a pequena Grécia em ruínas que assusta, mas a colossal Espanha que dança o flamenco ao som das castanholas tocadas pelo BCE, FMI e pelos interesses do sistema financeiro. Os juros para o financiamento da dívida soberana  voltaram a subir e poucos acreditam que não só a Espanha, mas também Portugal e Itália, sem deixar de lembrar países do leste europeu, honrem os compromissos acordados com os credores.

Parte dos bilhões de euros entregues aos bancos pelo Banco Central Europeu (BCE) vem sendo usado para ajustar seus balanços. Outra parte fica entesourada no BCE rendendo juros. O restante que escapa para o mercado ruma para especulação nas bolsas, commodities, e, principalmente, para as operações de "carry trade" com preferência pelos países com juros alto como Brasil, Hungria, África do Sul, Nova Zelândia e Austrália, forçando a valorização das moedas e câmbio. O capital disponibilizado, mesmo que fictício, não flui para produção e consumo como o esperado. A prova disso é que apesar dos “afrouxamentos quantitativos”, a retração da economia, e, paralelamente, todas as formas de especulação, continuam em evidência no horizonte das análises mais consistentes, mesmo quando se pensa em prazos longos.

Por outro lado, as pressões pelo arrocho salarial, pela desregulamentação do mercado de trabalho em nome da ampliação do número de vagas e pelos cortes nos setores sociais são imensas. O suicídio de uma aposentada em Atenas, como manifestação de seu inconformismo pelas privações e pela indignidade a que estava submetida com os cortes nas aposentadorias, aponta para onde caminha as políticas dos países europeus na administração repressiva da crise para salvar o capital. Nesse jogo perverso, pouco importa as necessidades das pessoas, mesmo que venham morrer de fome. Com as ameaças de agravamento da crise, o emprego patinando, e os sindicatos na defensiva, essas pressões tendem aumentar e resultar em “soluções negociadas” com prejuízos para os mais fracos e para os jovens como já vem acontecendo.

A crise financeira, que tinha antes como nó a secura do mercado por capital, corre o risco de se agravar afogando-se num excesso de liquidez. O dinheiro liberado, mas ainda contido por diversos mecanismos, pode chegar ao mercado na forma de avalanche e sufocar a sociedade com ondas de inflação, mesmo sendo a deflação nesse momento a preocupação dos governos e de seus bancos centrais. Se produção do setor privado não se auto-sustentar como tudo indica, e as bolhas atingirem o limite de expansão que as levam a colapsar, com o grande volume de capital fictício circulando podemos ter o acirramento da crise em novo formato, onde a inflação haverá de ser considerada nos cálculos dos analistas e dos governos.

08.04.12

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