Rall
Depois do susto das ruas, o governo e os partidos políticos
buscam tomar a dianteira do movimento se articulando com as
instituições-satélites. Apesar da posição defensiva frente ao movimento e
algumas afirmações maldosas, as centras sindicais, levantam a bandeira de
manifestações (não mais uma greve geral), e de uma marcha até Brasília. Não
esperem queda da Bastilha, mas uma grande mesa de negociação, com direito a
farta exposição à grande imprensa, quando será anunciado o atendimento a um
grande número de reivindicações previamente acordada. De lá deverão sair o
líder dos movimentos produzidos pelo poder instituído, com quem os governos
poderão "negociar" sem medo, pois tem cara, nome e domicílio. Não
é a massa amorfa que a cada ocupação das ruas fica mais compacta e
assusta, pois não se sabe de onde veio e para onde quer ir sem lideranças e com
infinitas reivindicações.
É importante que se entenda em que contexto as centrais querem
por o bloco na rua. Partidarizadas, acordam de um longo sono com o barulho das
ruas e, meio que sem jeito, são empurradas pelos partidos irmãos para salva a
situação. Mas hoje há uma diferença muito grande entre o que os dirigentes
articulam em gabinetes e suas bases carentes de lutas. Neste ato, não estarão
mobilizando os trabalhadores para um show-comício com distribuição de prêmios e
falas ocas, em um espaço controlado. Nas ruas, as palavras de ordem pode ganhar
um sentido que não se queria dar e a massa posta em movimento pode seguir um
caminho diferente do previamente traçado. Não acho que essa carona deva ser hostilizada. Acredito que o movimento pode mobilizar para mesma data, como
espontaneamente vinha fazendo, engrossando sem confronto o caldo dos que neste
dia vão as ruas, mas sem abdicar das posições conquistadas.
As centrais sindicais vão ter muito recurso para esse
evento. Provavelmente água, seguranças prontos para agir contra os mais
afoitos, carros com sons potentes para inclusive abafar palavras de ordem
hostis a ordem estabelecida. Tudo pago pelo imposto sindical, outrora tão
criticado por garantir a continuidade de pelegos nas direções dos sindicatos.
Essa relação tão estreita com o poder, inclusive a cobrança pelo Estado desse
imposto dos trabalhadores e repassado as centrais e sindicatos, faz dessas
organizações entidade quase-estatais. Aliás, uma boa ideia para este dia é o
movimento recobrar a palavra de ordem pelo fim do imposto sindical,
excrescência da ditadura de Vargas, antes tão em moda nas oposições sindicais e
hoje situação, bandeira agora enterrada como se enterra um produto radioativo
pelos seus próprios formuladores para o resto da vida.
Os sindicatos e suas entidades maiores, já nasceram no Brasil
amarrados à lógica das políticas autoritária do Estado, que pretendia arbitrar
e "harmonizar" os conflitos trabalhistas. A subsunção do trabalho ao
capital é completada com um arcabouço jurídico que regula as relações de compra
e venda da força de trabalho. A chamada justiça do trabalho foi criada com essa
finalidade. É impossível admitir a existência de "liberdade
sindical", mesmo nos limites do campo de opção dado pela sociedade
capitalista, considerando todo emaranhado de leis tecidas em nome da
"paz social" para administrar a ação, e a cooptação forçada das
entidades que, para sobreviverem, dependem de um imposto cobrado
arbitrariamente dos trabalhadores, sindicalizados ou não, além de outras
benesses estatais. Tudo leva a uma acomodação burocrática.
A perda de autonomia dos sindicatos aumentou na medida em que de
"correia de transmissão" como antes já funcionavam, atrelaram-se em
definitivo aos partidos políticos, aprofundando sua dependência ao poder
estatal e as políticas por este traçado após o fim da ditadura militar. Isso
faz uma grande diferença entre a autonomia do movimento que tomou as ruas, que
busca independência do Estado, dos partidos políticos, das direções verticalizadas
das entidades atreladas e que tem o apoio 81% dos brasileiros (Folha de São
Paulo - 29.06.2013), do que querem as centrais sindicais com sua mobilização
retardatária. No entanto, pode o movimento responder nas ruas a esse chamado,
mobilizando com intensidade e alegria, com autonomia e sem violência,
organizando-se horizontalmente a partir dos vários pontos das cidades, mas não
permitindo que sua energia criadora seja usurpada por organizações
burocratizadas, cujo desejo em consonância com os partidos e governos é de
"que tudo deve mudar para que tudo fique como está” *.
*Il Gattopardo, de Giuseppi Tomasi Di Lampedusa
30.06.2013
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